Boris Arrivabene
Críticas
Boris Arrivabene

Um parto de imagens

Propiciar o surgimento de uma vida tem uma forte analogia com a criação artística.
Os dois processos exigem o grande poder de doação e de depositar energia em atividades
marcadas pelo exercício permanente de se manter atento a cada detalhe para obter um
desfecho satisfatório em todos os sentidos.
Medico obstetra, oriundo de uma família em que a musica tinha um papel fundamental, o paulistano Boris Arrivabene (1922 – 2000) tem como uma de suas principais
características plásticas a experimentação na gravura e a produção intensa. Foi por meio do trabalho com placas e tintas que encontrou uma legitima forma de expressão.
Destacam-se ainda as esculturas, onde os instrumentos cirúrgicos que conhecia tão bem se fazem presentes de maneira provocativa e ousadas nas mais diferentes composições
estéticas, num dialogo permanente entre a configuração obtida e os materiais empregados.
Nesse universo, o carnaval foi um dos temas mais utilizados. Há nele uma variedade de
interpretações que propicia a possibilidade de manifestar a riqueza e multiplicidade da
própria existência tanto na pintura, por meio da cor, como na gravura, pela forma de lidar com as incisões e com o processo de impressão.
A força do artista, todavia, encontra uma guarida das mais ricas ao tratar de questões
sociais, como a vida cotidiana das populações de baixa renda. Isso pode ser visto na
composição das favelas, não apresentadas simplesmente como um reduto de miséria social, mas tratadas com a valorização da riqueza de combinações de cor dentro de estruturas verticalizadas.
Boris Arrivabene revela-se um artista completo e complexo pelos mecanismos de criação
de que se valeu e pelo tratamento dado tanto aos retratos mais realistas como as buscas de procedimentos regidos pela inquietação interior. Seja no desenho, gravura, pintura ou escultura ajudou a parir mundos interiores, construindo um patrimônio plástico que precisa ser progressivamente melhor desvendado, valorizado e preservado.

Oscar D’ambrosio, jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp,
integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA- Seção Brasil).